As multidões não apavoram apenas os ditadores e os partidários dos regimes totalitários. O comportamento imprevisível dos grandes aglomerados de pessoas já causou tragédias em eventos esportivos, culturais e até em encontros religiosos.
Há anos os cientistas tentam entender como pessoas que aglomeram-se pacificamente dia após dia nas grandes cidades, nas ruas, nos metrôs e nos supermercados, de repente atingem um ponto sem retorno, explodindo em corridas desesperadas ou em comportamentos violentos.
A imprevisibilidade das multidões
Essa imprevisibilidade das multidões torna virtualmente impossível estudar esses fenômenos sociais - ou anti-sociais - e prevenir a ocorrência de novas tragédias.
"As multidões se formam no tempo e no espaço e apresentam padrões geométricos baseados em camadas sucessivas de interações humano-humano e humano-ambiente. Elas são quase impossíveis de se modelar realisticamente," diz o professor Paul Torrens.
Agentes artificiais
Agora, cientistas da Universidade do Estado do Arizona, nos Estados Unidos, estão utilizando conceitos aprimorados no campo da robótica e da inteligência artificial para tentar descobrir como uma multidão atinge o famoso ponto sem volta, irrompendo em violência ou em desespero.
Os pesquisadores estão desenvolvendo um mundo virtual capaz de abrigar "multidões sintéticas" formadas por milhares de agentes artificiais. Cada agente artificial possui um "cérebro" que permite que ele funcione como um indivíduo distinto dos demais agentes, mas interagindo, influenciando e sendo influenciado pelos demais.
Informações não-verbais
Uma das descobertas mais significativas feitas até agora, depois de analisados os comportamentos e as interações sociais e anti-sociais, é o papel preponderante da troca de informações não-verbais entre os indivíduos de uma multidão, através das expressões e da forma e do ritmo da locomoção dos diversos indivíduos.
Outra descoberta é o fenômeno da ampliação (scaling), por meio do qual as ações de um único indivíduo são capazes de modelar a dinâmica de toda a multidão.
Por exemplo, um único indivíduo assustado que começa a correr e parar de forma de forma aleatória, é capaz de formar ondas que se espalham pela multidão, potencialmente causando pisoteamentos e pânico geral.
Os pesquisadores esperam descobrir padrões no espalhamento desses comportamentos descontrolados, de forma a preveni-los, seja pela orientação aos indivíduos, seja pela otimização dos espaços públicos, dotando-os de elementos que anulem a disseminação do chamado "comportamento de manada."
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